quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Cometa Churyumov–Gerasimenko revelará mistério do surgimento de água na Terra


(Voz da Rússia) No dia 12 de novembro, o mundo soube do sensacional pouso do módulo científico Philae, da Agência Espacial Europeia (ESA), no cometa Churyumov–Gerasimenko. Depois de ter transmitido dados para a Terra, o aparelho entrou em modo “adormecido” devido a suas baterias se terem descarregado. Enquanto os cientistas aguardam que ele “acorde”, nós iremos contar aquilo que poucos sabem: como foi descoberto o cometa e quem eram as pessoas cujo nome ele ostenta.

O cometa, que se encontra a 500 milhões de quilômetros da Terra e recebeu o nome de 67P/Churyumov–Ge rasimenko, foi descoberto no dia 23 de outubro de 1969 pelos astrônomos soviéticos Klim Churyumov e Svetlana Gerasimenko, que nesse tempo trabalhavam no Observatório Astronômico Principal da Ucrânia. O índice 67P significa que esse corpo celeste é o 67º cometa descoberto e que se desloca em torno do Sol com um período de translação inferior a 200 anos. O cometa Churyumov–Gerasimenko tem de interessante o fato de não se aproximar do Sol e assim se ter mantido em estado relativamente primordial.

Os dois cientistas, Klim Churyumov e Svetlana Gerasimenko, continuam de boa saúde e trabalhando. Eis como Svetlana Gerasimenko descreve a descoberta do cometa:

“Em setembro de 1969, juntamente com Klim Churyumov, nós participámos em Almaty (Cazaquistão) de uma expedição para observação de cometas. Na noite de 11 para 12 de setembro, eu observei vários cometas com um telescópio de 50 centímetros, incluindo o cometa Comas Solà. Quando terminei a observação, comecei a revelar as fotos. A película com o cometa Comas Solà me pareceu danificada, ela apresentava uma pequena mancha no centro. Eu fiquei muito aborrecida por ter permitido esse defeito e no início queria mesmo descartar essa película. Mas não o fiz.

“Depois do regresso a Kiev, nós começamos analisando escrupulosamente todas as películas que tínhamos e no local esperado encontramos o cometa Comas Solà. Mas ele era um pouco mais fraco que o objeto referenciado. Depois esse objeto desconhecido foi detectado em quatro outras películas. Nós enviamos as nossas medições e dados das coordenadas ao Brian Marsden, diretor do Centro de Planetas Menores no Centro Harvard–Smithsonian de Astrofísica, em Cambridge. Pouco depois, recebemos dele a resposta que provavelmente se trataria de um cometa novo, mas que os dados de observação eram poucos.

“Eu parti imediatamente para Almaty para continuar as observações. Pouco depois recebemos a confirmação que o cometa era realmente novo. Mais tarde, tendo sido calculada sua órbita, ele foi descoberto em fotos de outros observatórios internacionais. Mas, entretanto, os nossos nomes já tinham sido atribuídos ao cometa …”

Atualmente Svetlana Gerasimenko trabalha no Instituto de Astrofísica em Dushanbe, capital do Tajiquistão. O professor Klim Churyumov, de 77 anos, é agora o diretor do Planetário de Kiev. Klim Churyumov definiu o cometa como uma “cápsula do tempo”:

“O cometa conserva em sua composição o material primordial. Este material se formou há quatro bilhões e meio de anos, quando o próprio cometa se formou, e permanece inalterado. Ou seja, ele é uma espécie de “cápsula do tempo”. Esse é o material a partir do qual se formaram todos os planetas e também o Sol e permitirá desvendar o grande mistério: como surgiu o nosso Sistema Solar, a nossa Terra, como era ela quando era jovem. E também como terá surgido a água na Terra.

“Os geólogos possuem uma versão diferente, mas em astronomia existe um modelo, segundo o qual se considera que a água surgiu na Terra devido ao seu bombardeio por núcleos de cometas. Os núcleos de cometas são constituídos em 70-80% por gelo. Os vestígios do bombardeio da Terra por cometas e asteroides permanecem sob a forma de crateras. Quando compararam a composição isotópica do gelo dos cometas e dos oceanos da Terra, se verificou que ela era absolutamente igual.

“Isso poderá servir de prova de que a água foi trazida para a Terra pelos cometas. Ou seja, a Terra deve sua vida aos núcleos de cometas. Mas ainda falta esclarecer muita coisa… Assim, muitas esperanças estão depositadas no módulo orbital Rosetta com sua sonda Philae. Estamos caçando a matéria primordial…”

Os próprios Klim Churyumov e Svetlana Gerasimenko consideram como seu maior prêmio pela descoberta foi o convite para assistirem ao lançamento da sonda espacial Rosetta a bordo do foguete-portador Ariane 5, realizado a 2 de março de 2004 no Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa. Nessa altura, há dez anos, esse lançamento passou quase despercebido porque a missão principal da sonda, o estudo do cometa 67P/Churyumov–Ge rasimenko deveria começar apenas 10 anos depois. Mas, entretanto, esses dez anos já passaram.

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