quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Todos a postos!


(Cássio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) No começo do ano, eu cheguei a mencionar que 2014 seria especial para os cometas, meio que para compensar a decepção com o cometa ISON, o "cometa do século" que virou o "xabu do século". Não um, mas dois cometas seriam notícia neste ano. Vamos a eles.

O primeiro é o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, que tenho dado bastante atenção aqui no blog. Não é para menos, já que a sonda Rosetta está em órbita descendente em direção ao seu núcleo e, no dia 12 de novembro, vai liberar um módulo de pouso em sua superfície. Não vou me estender nisso por ora, já que esse assunto vai render bastante ainda.

O outro cometa é o Siding Springs. Ele foi descoberto na Austrália, no dia 3 de janeiro do ano passado, e o cálculo de sua órbita mostrou que ele iria passar rente a Marte no dia 19 deste mês. Rente quanto? A meros 134 mil quilômetros de sua superfície. Isso equivale a um terço da distância entre a Terra e a Lua e, apesar dos cálculos inicias terem apontado um probabilidade razoável de colisão com Marte, hoje as contas mostram que isso não deve ocorrer.

O interesse por esse cometa é bastante grande. Ele é um daqueles cometas que se desgarram da Nuvem de Oort, um grande enxame de objetos rochosos com muito gelo agregado que envolve o Sistema Solar a distâncias enormes, tipo 50 mil vezes a distância da Terra ao Sol. Cometas que surgem dessa nuvem possuem muito gelo e são aqueles que têm grande potencial de dar espetáculo quando se aproximam do Sol.

Além disso, essa é a primeira vez (e a última) que esse cometa adentra o Sistema Solar, portanto o material que compõe o núcleo ainda não sofreu nenhuma interação com a radiação solar. Em outras palavras, o núcleo do cometa carrega material original dessa nuvem, que é na verdade resto da formação do nosso sistema planetário.

Vários outros cometas já foram estudados de perto, como o Halley, o Tempel 1 e o Wild 2, para não mencionar o 67P, que tem uma sonda sobrevoando seu núcleo nesse instante. Mas todos esses cometas são periódicos, seus núcleos já experimentaram a ação da radiação solar, e o material dele já não é o original. O Halley, por exemplo, deve estar nesse processo de bombardeio de radiação há várias centenas de anos. Dessas experiências com cometas periódicos, a ideia que temos de seus núcleos é que eles são compostos de um material extremamente escuro, mais escuro até do que carvão. Mas isso seria por causa da exposição à radiação, ou eles são assim mesmo? Essa é uma das dúvidas que podem ser respondidas daqui a 10 dias.

E quem deve ajudar a responder essa pergunta será uma verdadeira frota de naves espaciais. A NASA divulgou, na tarde desta quinta-feira (9), a estratégia de observação de todos os seus instrumentos e são, nada mais nada menos, que 14! Incluindo o Hubble, os satélites de monitoramento do Sol, o Kepler, os jipes Opportunity e Curiosity, e a recém chegada MAVEN. Além deles, a sonda europeia Mars Express e a também recém chegada sonda indiana MOM.

Apesar de não haver nenhum risco de colidir com as naves em órbita de Marte, há sim o risco de partículas liberadas pelo núcleo do Siding Springs danificá-las. Tanto que a órbita da MOM foi alterada para que no momento da máxima aproximação do cometa, que será às 15h32 do dia 19 de outubro, no horário de Brasília, ela esteja atrás do planeta, usando-o como um escudo. Estimativas da agência espacial europeia dizem que é provável que a Mars Express sofra a colisão com 2 ou 3 partículas desprendidas do núcleo. É muito pouco, mas como elas são extremamente velozes, o estrago pode não ser pequeno – e no caso da MOM, grande sucesso da astronáutica indiana, é melhor não arriscar.

Como o Siding Spring é um cometa novo, com muito gelo, é esperada muita atividade em seu núcleo, mas como todo cometa que vem da Nuvem de Oort, também são esperadas muitas surpresas. Por exemplo, o cometa está sendo monitorado no hemisfério Sul por astrônomos amadores, e o que se viu dele é que a atividade no seu núcleo diminuiu! Já vimos essa história antes com o ISON.

Nenhuma das naves em Marte foi planejada para estudar o cometa, ou qualquer cometa, então o melhor que dá para fazer é usar o que cada sonda tem de melhor. No caso, a MAVEN e o Orbitador de Reconhecimento de Marte devem ser as melhores opções. A primeira deve estudar a interação dos gases do cometa com a atmosfera marciana e para isso a torcida é para que o núcleo esteja muito ativo. Já a segunda deve usar sua câmera de alta resolução para detalhar a superfície do núcleo e, para ter sucesso, o melhor é que a atividade seja muito baixa. Difícil agradar a todos...

Quem quiser tentar observar o Siding Springs deve apontar seu telescópio para as proximidades de Marte, mas a tarefa será difícil, pois ele não está brilhante. Em Marte talvez seja possível vê-lo de dia!

Como eu disse, o cometa está sendo monitorado já há algum tempo. Na semana que vem devem começar a surgir as imagens obtidas pelas sondas em órbita de Marte. Vamos aguardar!

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