quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Os cometas e a Humanidade, ontem, hoje e amanhã


(Cesar Baima - O Globo) Há pouco mais de 300 anos, a aparição de um cometa era geralmente vista como um mau presságio, sinal de tragédias, pestes e mortes iminentes. Afinal, os cometas perturbavam a “ordem” do céu e eram imprevisíveis, à diferença do Sol, da Lua, das estrelas e dos planetas, cujos movimentos então já podiam ser previstos.

Esta visão dos cometas como mensageiros de mau agouro, porém, começou a mudar em 1705 graças ao gênio de Edmond Halley. Naquele ano, Halley publicou estudo no qual usou os princípios da gravitação universal recém-descobertos por Isaac Newton para afirmar que os cometas que tinham sido vistos no céu em 1531, 1607 e 1682 eram na verdade o mesmo objeto que tinha uma órbita que o trazia para o Sistema Solar interior a cada 76 anos, prevendo seu retorno em 1758.

De fato, o hoje conhecido como Cometa de Halley retornou não só naquele ano como em 1835, 1910 e 1986, com a próxima visita prevista para 2061. Ainda assim, em 1910 a passagem do Halley voltou a causar pânico diante da informação de que a Terra atravessaria sua cauda, enchendo a atmosfera de gases tóxicos. Fabricantes de máscaras contra gases e “pílulas anticometa” fizeram a festa em cima dos incautos, mas, claro, não aconteceu nenhuma tragédia. Apesar disso, a superstição com relação aos cometas continuou e teve até gente que associou esta passagem do Halley à epidemia de Gripe Espanhola que matou milhões de pessoas alguns anos depois.

Neste início do século XXI, no entanto, é difícil acreditar que isso volte a acontecer, ainda mais diante da imagem que abre este post. Captada pelo VLT, telescópio do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, e divulgada nesta segunda-feira, ela mostra o cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko. Não é nada de mais, pode-se pensar, até lembrar que cruzando o espaço junto a ele está uma sonda construída por seres humanos e lançada da Terra em 2004.

Batizada Rosetta, a sonda da Agência Espacial Europeia (ESA) viajou bilhões de quilômetros pelo Sistema Solar, realizando complexas manobras até finalmente interceptar a órbita do cometa no início do mês passado. Até o fim de 2015, a Rosetta vai viajar lado a lado e estudar o Churyumov–Gerasimenko e em novembro deverá até lançar uma sonda menor, Philae, para se ancorar na sua superfície em busca de mais dados sobre o processo de formação do próprio Sistema Solar, do qual os cometas são verdadeiros fósseis celestes. (Abaixo, detalhes do cometa vistos por câmera de alta resolução a bordo da sonda, que busca um bom lugar de pouso para a Philae, assim como sinais de mudanças na sua superfície provocadas pela sua aproximação do Sol).


Quanto a mim, fico maravilhado em ver o quanto o conhecimento humano progrediu nestes últimos 300 anos a ponto não só de os cometas deixarem de ser vistos como maus presságios como se tornarem alvos de ambiciosas e ousadas missões como a da Rosetta, e louco em imaginar o que a Humanidade poderá fazer daqui a outros 300 anos desde que, claro, não destruamos a nós mesmos ou ao nosso planeta. Mas aí é outra história...
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E mais:
VLT segue o cometa de Rosetta (AstroPT)

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