sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Cometa é a grande atração no céu neste fim de ano












(O Globo) Um visitante cósmico inesperado acabou se tornando uma grande atração no céu neste fim de ano. Visto pela primeira vez em 27 de novembro pelo astrônomo amador australiano Terry Lovejoy, o cometa C/2011 W3 (Lovejoy) pode ser observado com o auxílio de binóculos e pequenos telescópios em boa parte do Brasil, principalmente nos estados das regiões Sul e Sudeste. Para isso, os astrônomos aconselham encontrar um local com céu claro, pouca poluição luminosa e procurá-lo no fim da madrugada e próximo do amanhecer na direção da constelação do Escorpião, a Sudeste.

- Quanto mais distante dos grandes centros urbanos, melhor - diz a astrônoma Daniela Lázaro, do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro. - Ele é um cometa brilhante para os padrões gerais, mas ainda assim muito tênue. E, com passar do tempo, vai ficar mais fraco ainda.

O Lovejoy faz parte de um grupo de cometas "suicidas" conhecido como Kreutz, homenagem ao astrônomo alemão Heinrich Kreutz, pioneiro no estudo deles, no século XIX. Acredita-se que eles são os restos de um grande objeto que deixou a Nuvem de Oort, na periferia do Sistema Solar, e foi fragmentado em sua única passagem pelas proximidades da nossa estrela, provavelmente o que ficou conhecido como “o grande cometa de 1106”.

Desde que foi lançado, em dezembro de 1995, o observatório solar SOHO, da Nasa, detectou mais de 2 mil cometas do tipo Kreutz, também chamados de “sungrazers”, rumando para o Sol, a um ritmo de cerca de um a cada três dias. O Lovejoy, porém, é o primeiro em quase 40 anos que foi detectado por observações em terra antes de atingir o periélio, isto é, o ponto de maior aproximação da nossa estrela. Em 1965, o último sungrazer visto da Terra antes do periélio, o Ikeya-Seki, ficou tão brilhante que podia ser observado a olho nu apenas bloqueando o Sol com a outra mão (é bom lembrar que nunca se deve olhar diretamente para o Sol, muito menos com instrumentos óticos como binóculos e telescópios, sob o risco de ficar cego).

Os astrônomos esperavam que o Lovejoy não sobrevivesse ao seu encontro com o Sol, mesmo sendo relativamente grande para um cometa do tipo Kreutz, com estimativas iniciais de que teria entre 100 e 200 metros de diâmetro. Em geral, esses cometas são pequenas bolas de gelo, rochas e sujeira com menos de 10 metros de diâmetro, e acabam vaporizados ao se aproximarem da nossa estrela. Surpreendentemente, o Lovejoy escapou deste destino, apesar de ter passado a uma distância que pode ter chegado a apenas 120 mil quilômetros da superfície do Sol no periélio de 16 de dezembro.

- Foi um feito inédito um cometa chegar tão próximo do Sol e sobreviver - destaca Daniela. - Provavelmente o Lovejoy era bem maior do que se estimava, com 500 a 600 metros de diâmetro, e tinha uma matriz de material bastante compacto que resistiu ao encontro com nossa estrela.

Assim como todos cometas que chegam à região interior do Sistema Solar, o Lovejoy é caracterizado por uma longa cauda, que no Hemisfério Sul surge antes no horizonte. Relatos de astrônomos amadores no Brasil, Austrália e Nova Zelândia indicam que ela ocupa um arco de até 30 graus no céu, muito tênue e quase imperceptível na ponta externa, a primeira a aparecer, e ficando mais brilhante quanto mais próxima da chamada “coma”, a nuvem de vapor e poeira que encobre o núcleo do cometa, que surge por último no céu, já com o nascer do Sol.

- Quando o Lovejoy passou pelo Sol, ele foi fortemente "ativado", isto é, teve boa parte de sua crosta retirada e ficou com o gelo mais exposto. Assim, este gelo começou a evaporar mais e o cometa a ficar mais brilhante - explica a astrônoma do Observatório Nacional. - Mas essa atividade aos poucos vai parando, com a poeira se depositando novamente em torno do núcleo. Isso se o cometa não acabar se fragmentando completamente.

O cometa chegou a ter sua magnitude aparente calculada em por volta de -4, um brilho semelhante ao do planeta Vênus, um dos objetos mais brilhantes do céu. A grande proximidade do Sol nesta fase, no entanto, impedia sua observação. Atualmente, a coma do Lovejoy tem uma magnitude aparente de +4, isto é, similar à das estrelas de brilho médio para fraco no céu.

- Nenhum cometa é feito só de gelo - lembra Daniela. - Ainda assim, o Lovejoy devia ter núcleo bastante denso e coeso. Ele provavelmente perdeu quase todo esse gelo que tinha na passagem pelo Sol e uma vez eliminado esse gelo resta cada vez menos área de reflexão da luz solar.

Nas próximas semanas o cometa deve ficar ainda mais tênue, chegando a magnitudes aparentes entre +6 e +7 mesmo se aproximando cada vez mais da Terra. Segundo cálculos da Nasa, em meados de janeiro o Lovejoy deverá estar a cerca de 70 milhões de quilômetros de nosso planeta, seguindo então para uma longa viagem até os confins do Sistema Solar. Se também sobreviver a este périplo, o cometa deverá voltar a nossa vizinhança cósmica dentro de aproximadamente 314 anos.

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